— Oi pai, você me chamou?
— Entra aí meu filho, vamos conversar.
— Eita pai! É alguma bronca da escola, é?
— Não, não. Hoje eu gostaria apenas de fazer um follow up de como está sendo o seu desempenho nos primeiros meses do ano. Lembrando que isso vai ajudar com a avaliação anual de 360 que vamos ter lá em Dezembro na véspera do natal!
— Fiquei nervoso já.
— Não é nada de mais, filho. Você está indo bem na escola. Nos esportes, o professor de Jiu-Jitsu teceu ótimos elogios. Também ouvi alguns feedbacks dos seus colegas de futsal e você melhorou o seu comportamento em grupo.
— Obrigado, pai! Você me ensinou que sozinho eu vou mais rápido, mas acompanhado eu vou muito mais longe!
— Esse é o meu garoto! Agora, sobre o quesito comportamento em casa, precisamos conversar.
— Ai meu deus! Lá vem!
— Filho, não basta fazer as atividades de limpeza da casa e respeitar o seu irmão. Isso é, como posso dizer, responsabilidade básica da sua função como filho e irmão. A minha expectativa é que você, nessa idade, consiga ir um pouco mais além.
— Mais além? Por acaso é pra eu arrumar a cama do meu irmão todas as manhãs? Ou você quer que eu acompanhe a obra da varanda gourmet que você e a mamãe estão coordenando?
— Não é pra tanto. Essas tarefas já têm alguém responsável. É coisa mais simples. A minha expectativa é que você saiba perceber, detectar um pouco melhor as coisas. Você está me entendendo?
— Não tô não. É pra perceber tipo o quê?
— Está vendo, tipo agora!
— Agora o quê? Você tá falando em códigos pra mim, pai!
— É isso que estou dizendo. Você precisa aprender a navegar melhor nas ambiguidades.
— Mas que tipo de ambiguidade?
— Qualquer uma! Essa aqui! Todas!
— Pára de brincadeira, pai! Eu não estou entendendo nada. Me explica melhor.
— Entenda meu filho: As coisas na vida não são sempre preto no branco. Pelo contrário! A maioria das coisas são uma grande escala de tons de cinza. Você precisa saber diferenciar um tom do outro e agir conforme o esperado.
— A metáfora eu já entendi, mas e aí?
— E aí? E aí é que se você entendesse as nuances das coisas e soubesse navegar nas interpretações da vida não precisaria fazer esse tipo de pergunta. Mas não se preocupe, meu filho, assim que tiver uma oportunidade, eu vou lhe ajudar com isso.
— Tipo agora? Você pode me ajudar agora?
— Agora? Por que, agora? Agora eu só estou lhe dando um feedback.
— Um feedback bem ambíguo, diga-se de passagem.
— Aê, meu filho!!! Agora você já começou a perceber melhor.
— Mas isso estava bem óbvio, né? Como preto no branco.
— Preto no branco?! Por acaso você não prestou atenção em nada do que eu falei?